sábado, 28 de abril de 2007

Curioso tempo

Neste curioso tempo em que vivemos é de bom tom exprimir pensamentos e sentimentos politicamente correctos. E assim, tudo o que mesmo de longe tenha cheiro de discriminação, racismo ou outra forma de antipatia, é apontado a dedo, condenado pela hipocrisia vigente, e ao pecador resta apenas descobrir buraco em que se refugie.
Não se podem fazer comentários negativos sobre a arrogância do islamismo. É mal visto não demonstrar um intenso carinho pela raça negra. Todos os pobres são implicitamente bons, e todos os criminosos uns infelizes que as condições sociais levaram a descarrilar.
Dentro de semelhante contexto como é que eu, que nunca tive nem tenho preconceitos sobre a cor da pele, vou poder explicar que está fora das minhas intenções desculpar mais um negro que um branco, um chinês ou um esquimó?
Porque não hei-de protestar quando o Islam exige que se levantem mesquitas nos países ditos cristãos, mas “retribui” proibindo que nos seus se levantem igrejas? Terei de aceitar sem revolta que a shariah me seja imposta, e o corte das mãos e as lapidações substituam o Direito?

(J. Rentes de Carvalho)

ISTO NÃO É UMA PARÁBOLA

Para os pragmáticos, uma parábola não quer dizer nada. É só uma trajectória. Uma coisa que sobe e depois desce. Uma curva elegante. Um caso de simetria (com foco). Algo que se pode ver e explicar.
Não espanta que sejam os pragmáticos a governar o mundo.

(José Mário Silva)

antiamericanismo

Do seu encontro com a actriz Sharon Stone conta-nos que ela cruza e descruza as pernas enquanto fala de Bush e dos americanos mortos no Iraque...

Eu falei com muitos americanos para mostrar a realidade americana. Não quero mostrar o sonho americano ou a fama, mas a América tal como ela é de verdade. Estou farto de tanto antiamericanismo, da devoção e da antidevoção, de a idealizar e de a satanizar. O livro conta a América para europeus poderem ver a verdadeira cara do país. Está aqui um espelho, reflictam!

Fala do candidato Barack Obama, quando ainda desconhecido, como o Clinton negro!

Eu fui um dos primeiros europeus a imprimir num livro o nome de Obama e a fazer o seu retrato. Senti imediatamente que existia qualquer coisa de importante nele e de novo para a política americana. Sei que hoje em dia falam muitodele, mas não era assim quando o descobri.

Francis Fukuyama acusou-o de querer ver Las Vegas como a cidade do pecado e de ter ficado desiludido por não ser assim...

Encontrei em Las Vegas uma caricatura do prazer, do pecado e do sexo. Tudo ali é artificial e representa o lado mau da América. O que ele disse foi que eu, ao não gostar de Las Vegas, era o mesmo que não apreciar o povo americano, porque reflecte-se na cidade. Respondi-lhe que há duas definições de povo, o democrático e a turba demagoga. Las Vegas é a turba, o mau.

A Europa ainda desconfia da América?

Sim e há uma canção francesa que diz o porquê de uma forma humorística. É qualquer coisa como "Eu não presto serviço aos inimigos, nem a ninguém", e nós europeus temos o complexo do devedor, porque sem a América a França não se teria libertado na II Guerra Mundial, a minha família teria sido exterminada e eu não existiria. Ou seja, quando se é muito dependente de alguém deseja-se a emancipação.

Para si a América é "uma ideia que liberta"?

Sim, até porque é o único país ocidental onde a situação internacional não interfere. No entanto, é um país onde a identidade é algo muito bizarro e que não existe uma definição para o que é ser americano. Não há uma raça e uma memória - coisas que tanto afectam a Europa -, mas têm uma identidade nacional definida pela fidelidade à Constituição e isso aligeira o peso do sentido nacional. Eu não gosto do nacionalismo porque faz-nos mal e desemboca no servilismo.

Decididamente, vê de forma diferente que a maioria dos franceses!

Eu vejo a América sem preconceito, principalmente sem preconceitos hostis. A França sofre de um antiamericanismo muito violento, por estar persuadida de que é uma nação, um povo e uma raça, tal como Portugal e a Espanha se acham. Que somos filhos da mesma mãe, mas os americanos pensam o contrário, que são filhos do mesmo pai e da mesma lei. Essa diferença deixa os europeus enraivecidos e provoca antiamericanismo, mas é um olhar original.

Os EUA estão bem diferentes?

Mal-grado o episódio Bush, que é um parêntesis na minha opinião, a América fez progressos democráticos em questões como as dos direitos cívicos, da igualdade das mulheres, do racismo. Foi um grande avanço nas últimas décadas e desconheço revoluções democráticas tão rápidas e profundas como esta.

Enquanto isso, a Europa atrasou-se?

Aconteceram as duas situações, mas recordo que nada é igual nos estados do Sul, no Alabama, Tennessee e Arkansas, onde há quarenta anos ainda existia segregação e escravatura.

Sai desta viagem com a certeza de que a esquerda americana está morta?

Principalmente porta-se menos bem que a direita, que tem ideólogos e produzem conceitos que não se encontram à esquerda. Para mim, que sou de esquerda, isso é muito triste.

Quando acabou o tour americano, entendeu que Paris perdera o estatuto de capital do debate para Nova Iorque...

Não é que tenham melhores intelectuais, mas possuem melhores universidades e uma discussão pública com choque de opiniões que já não existe em França, ou em Portugal, por exemplo. Há qualquer coisa de esfíngico nas nossas posições enquanto na América dá-se uma intensa circulação de ideias e opiniões. As teses mais importantes dos últimos anos nasceram lá.

Encontrou em Guantánamo um condensado do sistema penitenciário norte-americano?

Não é o gulag, quem o diz é cretino, mas o campo deve acabar porque não se respeita a Convenção de Genebra e inquieta-me que seja o produto final do sistema prisional americano.

Acusa o islamismo de ser uma expressão moderna do regimes totalitários?

O islamismo inspira-se nos líderes nazis e fascistas, basta ler os textos dos Irmãos Muçulmanos, do Partido Baas ou os que inspiraram a revolução islâmica iraniana. Tanto nos escritos muçulmanos como nos fascistas há duas ideias de força semelhantes, que o Ocidente é a decadência, o ódio à liberdade e uma violência purificadora que não está no Alcorão. São temas que vêm das tradições totalitárias ocidentais.

A resposta ao 11 de Setembro foi acertada?

Não. Fui a favor da guerra no Afeganistão porque a Al-Quaeda estava lá e os americanos respondiam a um desejo expresso por forças afegãs e existia o apoio de uma coligação internacional. No Iraque não havia esta justificação, nem um plano para o que se iria fazer depois.

Disse que a invasão do Iraque era um direito moral!

É moralmente justo exportar a democracia, mas é preciso fazê-lo sob condições políticas que tornem a operação possível. Os EUA fizeram as coisas da pior maneira ao tentar introduzir o vírus da democracia na região.

(JOÃO CÉU E SILVA)

sábado, 14 de abril de 2007

Os blogues

Um dos reparos que os puristas da língua fazem à escrita através da Internet centra-se no seu funcionamento como pólo agregador dos processos de destruição do seu próprio ideal de «pureza». A simplificação, a rapidez e a mistura de registos serão factores decisivos de contaminação. Mas se este risco existe – e fica por discutir se ele é necessariamente negativo – também é verdade que uma boa parte daquilo que de melhor e de mais original se tem escrito nos últimos tempos tem, pelo menos em Portugal, começado por aqui, só depois migrando para outros suportes. Incluindo-se nestas contas a prática de muitos jovens bloggers, capazes de treinar aqui a agilidade da escrita e a capacidade para pensarem de forma autónoma. Há poucos anos, por falta de meios e de um estímulo, a maioria deles jamais escreveria sistematicamente. Reescrever, rasurar, remeter, são práticas partilhadas que podem aqui apurar a forma, a clareza, a fala.

[De um conjunto de doze posts usados durante uma conversa sobre blogues que teve lugar na livraria Almedina-Estádio, Coimbra]

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Os malefícios da proibição

Gostas de citar, meu lindo? (Que raio de maneira de começar. Haverá propósito?) Há tempos, deixaste a meio um texto sobre o tabaco, a proibição de fumar, os supostos direitos de quem não fuma, a diferença entre o tabaco e a cocaína (ou a heroína), que depois nem era relevante, e nem sei que mais. Sem punch line, o texto ficou paralisado; preterido. Mas gostas de citar, meu lindo? (Que coisa, isto volta: quem é este lindo a quem chamo meu?) O ponto, se não erro, era este: indesmentíveis que sejam os malefícios do tabaco, mais nefastos que indesmentíveis são os malefícios da proibição. É um ponto difícil de argumentar. Quem defenda o tabaco, e fume, defende-se sem dificuldade de maior. Quem não fume, mas suponha o tabaco um mal menor ou ainda um benefício, dirá isso mesmo. Já quem entenda que o tabaco empesta o ar terá maior dificuldade em repudiar a proibição enquanto proibição. O bom senso diz que ao Estado compete proibir o nefasto. Como podemos repudiar que se fume em locais públicos e ao mesmo tempo que se proíba o tabaco em locais públicos? Enfim, gostas de citar, meu lindo? Aqui vai o exemplo que ilustra a necessidade da distinção difícil: «Foi preciso que o Parlamento levasse um boa bofetada na cara, mas mais vale tarde do que nunca. Que o dr. Correia de Campos, do alto da sua autoridade, obrigue o proprietário de um restaurante a impedir a sua clientela de fumar não impressionou os senhores deputados. Que o Estado resolva impor uma regra geral que exclui a hipótese de os fumadores frequentarem restaurantes de fumadores também não colidiu com a sensibilidade democrática da Assembleia. Agora que o grupo parlamentar socialista interfira na comodidade e nos vícios de cada um é verdadeiramente grave. As leis, como toda a gente sabe, são para a canalha. A canalha que as cumpra e cale o bico. Os senhores deputados, pelo contrário, têm direitos. Por exemplo: no avião de Sócrates, que os contribuintes pagam, fuma quem quer e o ar até se torna ‘quase irrespirável’. Assim é que é; e assim é que deve ser em S. Bento.» Acutilante, preciso: e vindo dum defensor do tabaco (Vasco Pulido Valente), claro, fumador, claro, mais ajuda, e até foi hoje (Público, lá para a última página, sublinhados meus). Gostas de citar, meu lindo?

(Harpo)

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Salazar

Embora não me agrade, não é com muita preocupação que vejo Salazar no topo do ranking dos “Grandes Portugueses”. A confirmar o facto de que todo este concurso post mortem foi uma palhaçada está o segundo lugar obtido por Álvaro Cunhal...

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Questionado quanto ao que pensava da sua posição no ranking dos «grandes portugueses», Fernando Pessoa escusou-se a uma resposta conclusiva. Alberto Caeiro, mordendo uma ervinha, respondeu monocordicamente que «Há metafísica bastante em não pensar em nada». Já Álvaro de Campos, da exaltação dos avanços tecnológicos que permitem auscultar (a 0,60€ + IVA) o sentir do Povo, passou à desilusão niilista com esse mesmo Povo e o seu sentir. E, fleumático, Ricardo Reis declarou que antes magnólias ama que a glória ou a virtude, concluindo com uma pergunta: «Que importa àquele a quem já nada importa que um perca e outro vença?»

(Fernando Gouveia)

terça-feira, 10 de abril de 2007

o tabaco

A campanha anti-tabaco é simpática aos povos porque vai directa à sua costela moralista e oferece de bandeja a possibilidade de castrar os prazeres do próximo. Mas serão mesmo só estas iniquidades as razões do seu sucesso?

O cigarro sempre mereceu um estatuto de excepção e privilégio. Numa época em que uma fatia considerável da população já vai hesitando antes de deitar um papel ao chão, ainda não ocorre a ninguém censurar o fumador por atirar a beata fora do cinzeiro. E, claro, as beatas continuam a ser uma componente essencial de qualquer solo português.

O tabaco é uma tradição, uma omnipresença. Os não fumadores surgiram sempre aos olhos da comunidade como os fracos, os alheados do fenómeno gregário, os elementos secundários ou dispensáveis de qualquer acto social relevante. Hoje as coisas são um pouco diferentes. No entanto, não se alteraram os hábitos nem a percepção da maioria dos fumadores. A atenção, a cordialidade e o respeito não definem o consumidor comum de tabaco. Raramente um fumador privilegia as pessoas circundantes em detrimento do seu vício. Séculos de primazia ou exclusividade criaram a ideia (mesmo para a maioria dos não fumadores) que levar com o fumo dos outros nas trombas era natural e inevitável como haver areia no deserto.

As campanhas anti-tabaco têm um não sei quê de fascismo? Pois, parece que sim.

(Rui Araújo)

Corrosivo


Este blog não pretende ser original, não prentende ter post feitos por mim. Neste espaço irei coleccionar textos copiados por outras paragens. Copias descaradas! (Tentarei sempre que possível deixar o nome do autor).
Aqui poderão encontrar textos sobre nós. Nada sobre os outros, apenas sobre nós. Porquê? Narcisismo quem sabe... vergonha... pobreza...