sábado, 28 de abril de 2007

antiamericanismo

Do seu encontro com a actriz Sharon Stone conta-nos que ela cruza e descruza as pernas enquanto fala de Bush e dos americanos mortos no Iraque...

Eu falei com muitos americanos para mostrar a realidade americana. Não quero mostrar o sonho americano ou a fama, mas a América tal como ela é de verdade. Estou farto de tanto antiamericanismo, da devoção e da antidevoção, de a idealizar e de a satanizar. O livro conta a América para europeus poderem ver a verdadeira cara do país. Está aqui um espelho, reflictam!

Fala do candidato Barack Obama, quando ainda desconhecido, como o Clinton negro!

Eu fui um dos primeiros europeus a imprimir num livro o nome de Obama e a fazer o seu retrato. Senti imediatamente que existia qualquer coisa de importante nele e de novo para a política americana. Sei que hoje em dia falam muitodele, mas não era assim quando o descobri.

Francis Fukuyama acusou-o de querer ver Las Vegas como a cidade do pecado e de ter ficado desiludido por não ser assim...

Encontrei em Las Vegas uma caricatura do prazer, do pecado e do sexo. Tudo ali é artificial e representa o lado mau da América. O que ele disse foi que eu, ao não gostar de Las Vegas, era o mesmo que não apreciar o povo americano, porque reflecte-se na cidade. Respondi-lhe que há duas definições de povo, o democrático e a turba demagoga. Las Vegas é a turba, o mau.

A Europa ainda desconfia da América?

Sim e há uma canção francesa que diz o porquê de uma forma humorística. É qualquer coisa como "Eu não presto serviço aos inimigos, nem a ninguém", e nós europeus temos o complexo do devedor, porque sem a América a França não se teria libertado na II Guerra Mundial, a minha família teria sido exterminada e eu não existiria. Ou seja, quando se é muito dependente de alguém deseja-se a emancipação.

Para si a América é "uma ideia que liberta"?

Sim, até porque é o único país ocidental onde a situação internacional não interfere. No entanto, é um país onde a identidade é algo muito bizarro e que não existe uma definição para o que é ser americano. Não há uma raça e uma memória - coisas que tanto afectam a Europa -, mas têm uma identidade nacional definida pela fidelidade à Constituição e isso aligeira o peso do sentido nacional. Eu não gosto do nacionalismo porque faz-nos mal e desemboca no servilismo.

Decididamente, vê de forma diferente que a maioria dos franceses!

Eu vejo a América sem preconceito, principalmente sem preconceitos hostis. A França sofre de um antiamericanismo muito violento, por estar persuadida de que é uma nação, um povo e uma raça, tal como Portugal e a Espanha se acham. Que somos filhos da mesma mãe, mas os americanos pensam o contrário, que são filhos do mesmo pai e da mesma lei. Essa diferença deixa os europeus enraivecidos e provoca antiamericanismo, mas é um olhar original.

Os EUA estão bem diferentes?

Mal-grado o episódio Bush, que é um parêntesis na minha opinião, a América fez progressos democráticos em questões como as dos direitos cívicos, da igualdade das mulheres, do racismo. Foi um grande avanço nas últimas décadas e desconheço revoluções democráticas tão rápidas e profundas como esta.

Enquanto isso, a Europa atrasou-se?

Aconteceram as duas situações, mas recordo que nada é igual nos estados do Sul, no Alabama, Tennessee e Arkansas, onde há quarenta anos ainda existia segregação e escravatura.

Sai desta viagem com a certeza de que a esquerda americana está morta?

Principalmente porta-se menos bem que a direita, que tem ideólogos e produzem conceitos que não se encontram à esquerda. Para mim, que sou de esquerda, isso é muito triste.

Quando acabou o tour americano, entendeu que Paris perdera o estatuto de capital do debate para Nova Iorque...

Não é que tenham melhores intelectuais, mas possuem melhores universidades e uma discussão pública com choque de opiniões que já não existe em França, ou em Portugal, por exemplo. Há qualquer coisa de esfíngico nas nossas posições enquanto na América dá-se uma intensa circulação de ideias e opiniões. As teses mais importantes dos últimos anos nasceram lá.

Encontrou em Guantánamo um condensado do sistema penitenciário norte-americano?

Não é o gulag, quem o diz é cretino, mas o campo deve acabar porque não se respeita a Convenção de Genebra e inquieta-me que seja o produto final do sistema prisional americano.

Acusa o islamismo de ser uma expressão moderna do regimes totalitários?

O islamismo inspira-se nos líderes nazis e fascistas, basta ler os textos dos Irmãos Muçulmanos, do Partido Baas ou os que inspiraram a revolução islâmica iraniana. Tanto nos escritos muçulmanos como nos fascistas há duas ideias de força semelhantes, que o Ocidente é a decadência, o ódio à liberdade e uma violência purificadora que não está no Alcorão. São temas que vêm das tradições totalitárias ocidentais.

A resposta ao 11 de Setembro foi acertada?

Não. Fui a favor da guerra no Afeganistão porque a Al-Quaeda estava lá e os americanos respondiam a um desejo expresso por forças afegãs e existia o apoio de uma coligação internacional. No Iraque não havia esta justificação, nem um plano para o que se iria fazer depois.

Disse que a invasão do Iraque era um direito moral!

É moralmente justo exportar a democracia, mas é preciso fazê-lo sob condições políticas que tornem a operação possível. Os EUA fizeram as coisas da pior maneira ao tentar introduzir o vírus da democracia na região.

(JOÃO CÉU E SILVA)

Um comentário:

Hugo disse...

Eu por acaso até sou um pouco mais ao menos anti-americano, mas achei por bem deixar aqui esta opinião contrária, e não menos válida, que deixa a pensar certemente algumas pessoas, como eu. :)