terça-feira, 10 de abril de 2007

o tabaco

A campanha anti-tabaco é simpática aos povos porque vai directa à sua costela moralista e oferece de bandeja a possibilidade de castrar os prazeres do próximo. Mas serão mesmo só estas iniquidades as razões do seu sucesso?

O cigarro sempre mereceu um estatuto de excepção e privilégio. Numa época em que uma fatia considerável da população já vai hesitando antes de deitar um papel ao chão, ainda não ocorre a ninguém censurar o fumador por atirar a beata fora do cinzeiro. E, claro, as beatas continuam a ser uma componente essencial de qualquer solo português.

O tabaco é uma tradição, uma omnipresença. Os não fumadores surgiram sempre aos olhos da comunidade como os fracos, os alheados do fenómeno gregário, os elementos secundários ou dispensáveis de qualquer acto social relevante. Hoje as coisas são um pouco diferentes. No entanto, não se alteraram os hábitos nem a percepção da maioria dos fumadores. A atenção, a cordialidade e o respeito não definem o consumidor comum de tabaco. Raramente um fumador privilegia as pessoas circundantes em detrimento do seu vício. Séculos de primazia ou exclusividade criaram a ideia (mesmo para a maioria dos não fumadores) que levar com o fumo dos outros nas trombas era natural e inevitável como haver areia no deserto.

As campanhas anti-tabaco têm um não sei quê de fascismo? Pois, parece que sim.

(Rui Araújo)